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R$ 2 milhões para a Expoalta: festa pública, lucro privado?

Quem lucra?

16/04/2025 06h16
Por: Cilmo Santos Fonte: NATIVA NEWS
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Críticas se intensificam sobre uso de dinheiro público na feira; prefeitura defende retorno econômico, mas evita imprensa crítica e ignora questionamentos sobre transparência

A edição 2025 da Expoalta, maior feira agropecuária de Alta Floresta, se aproxima envolta em um clima de tensão política e desconfiança popular. O motivo: o investimento de R$ 2 milhões em dinheiro público aprovado pela Prefeitura Municipal para viabilizar o evento, que será realizado entre os dias 13 e 18 de maio.

O projeto de lei encaminhado pela gestão Chico Gamba em regime de urgência foi alvo de forte reação na Câmara de Vereadores. Parte dos parlamentares acusa a administração de exagero, falta de prioridades e pouca transparência no uso do recurso.

Dinheiro sai, mas não fica

Embora a feira seja promovida como oportunidade de desenvolvimento e aquecimento do comércio local, a maior parte do dinheiro deve sair da cidade. A empresa contratada para organizar o evento, Ditado Produções e Eventos, é de fora. Os artistas também: Jorge & Mateus, João Bosco & Vinícius, Jads & Jadson, entre outros.

Ou seja, milhões de reais sairão dos cofres públicos para bancar estruturas, shows e profissionais que não pertencem ao município. Pouco ou quase nada desse valor será reinvestido na economia local.

“É preciso ser honesto com a população: esse dinheiro vai embora. Os hotéis e restaurantes ganham algo, sim, mas o grosso do investimento vai para fora. A feira é vendida como motor de desenvolvimento, mas, do jeito que está, parece mais um negócio privado sustentado com dinheiro público”, disse um empresário local do setor de eventos.

Vereadores denunciam falta de prioridade

Vereadores como Luciano Silva, Dida Pires e Darlan Carvalho manifestaram-se publicamente contra o valor destinado à feira e sugeriram que o montante seja reduzido para R$ 300 mil, com o restante sendo realocado para áreas essenciais como saúde e infraestrutura.

“Nunca houve um valor tão alto para uma festa. Não somos contra a Expoalta, mas esse gasto é absurdo diante das filas no SUS e das estradas esburacadas. A população quer prioridade, não fogos de artifício”, disse o vereador Luciano Silva.

Darlan Carvalho foi direto ao comparar com Sinop: “É maior, arrecada mais e vai gastar R$ 1,5 milhão na exposição deles. Alta Floresta gasta mais? Não faz sentido.”

Dida Pires reforçou a crítica: “Tem gente esperando meses por um neurologista. Estamos escolhendo investir em camarote e palco, quando deveríamos investir em dignidade.”

Apesar das críticas e sugestões públicas de vereadores para limitar o repasse, não há, até o momento, emenda formal protocolada na Câmara.

Prefeito e vice defendem a feira como “estratégica”

Em entrevista à Rádio Conte FM 94.3, o prefeito Chico Gamba justificou o investimento, afirmando que a Expoalta retorna de R$ 3 a R$ 7 para cada real investido.

“Alta Floresta investe 33% da arrecadação em saúde, mais que o dobro do exigido por lei. Não estamos deixando a saúde de lado. A Expoalta atrai investidores, movimenta o comércio e mostra o potencial do município”, afirmou Gamba.

O vice-prefeito Robson Quintino reforçou a fala e disse que a gestão se baseia em eficiência:

“Estamos transformando a administração pública com visão empreendedora. A feira é parte disso. É vitrine para novos negócios e fortalece o papel de Alta Floresta como cidade-polo.”

Parceria ou privatização do lucro?

Apesar da gratuidade no setor pista — mediante doação de alimentos — a organização venderá camarotes e espaços VIPs. Vereadores apontam possível conflito:

“Se tem cobrança, tem lucro. Então por que o município paga tudo? Cadê o retorno disso para o contribuinte?”, questiona o vereador Tuti.

O contrato entre a Prefeitura e a Ditado Produções, até agora, não foi disponibilizado com clareza, aumentando os questionamentos sobre contrapartidas reais e transparência na aplicação dos recursos.

Alta Floresta entre o marketing e a realidade

Alta Floresta vive um momento de visibilidade regional com obras, promessas e grandes eventos. Mas a Expoalta 2025 revela uma fratura exposta entre discurso e prática: enquanto a gestão apresenta a feira como símbolo de progresso, parte da população e representantes eleitos enxergam um evento custoso, pouco transparente e com benefícios concentrados.

Silêncio seletivo com a imprensa

Outro ponto que desperta críticas é o tratamento desigual dado à imprensa por parte da atual gestão. Enquanto veículos alinhados ao discurso da prefeitura recebem fácil acesso e visibilidade, a administração tem evitado responder questionamentos de jornalistas que adotam uma postura mais crítica ou independente.

Um exemplo claro é o portal Nativa News, que vem atuando de forma transparente, registrando os fatos como são — sejam eles favoráveis ou não à gestão municipal. Ainda assim, a prefeitura tem se recusado a atender pedidos de informação e entrevistas feitos pelo veículo. A própria assessoria de comunicação ignora reiteradamente as solicitações, mesmo diante de temas de interesse público.

É importante lembrar: a assessoria de comunicação não é um gabinete de propaganda. É um órgão público sustentado com dinheiro público para prestar contas à população por meio da imprensa — toda ela, e não apenas a que convém.

Negar informações, evitar entrevistas e aplicar um “filtro de afinidade” na comunicação institucional é praticar censura indireta. É enfraquecer o debate democrático. É comprometer a confiança do cidadão nos atos do poder público.

Alta Floresta vive um momento importante de crescimento, investimentos e decisões de longo prazo. E justamente por isso, mais do que elogios, a cidade precisa de jornalismo. Precisa de perguntas incômodas. Precisa de imprensa livre.

Informar não é um favor. É dever. E ouvir também.

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